Tudo o que não entendo

sábado, 5 de janeiro de 2013

Aproxime-me. Eu não tenho nenhuma doença contagiosa. Pelo contrário... Meu problema é aqui dentro. Meu problema é meu coração.

Faz tempo que ele não bate direito. Já faz muito tempo que ninguém se importa com ele, tampouco. Parece que estou jogada pelo mundo, sem ninguém para estar ao meu lado quando eu acordar. Sinto que estou perdida, desolada, abandonada.

Sinto falta daqueles tempos onde aqui dentro não tinha um vazio. Aliás, sinto falta de sentir qualquer coisa. Há muito tempo que estou sendo tratada como um nada. Há muito tempo que não escuto minha própria voz. Ninguém se preocupa de conferir se, por acaso, eu ainda a possuo.

Tenho medo de não ter ninguém para secar minhas lágrimas quando houver dor. Tenho medo de ir embora e ninguém se preocupar. Tenho medo de não ter ninguém para segurar minha mão quando ela cair da maca. Tenho medo de ser só mais um corpo que não faz falta pelas ruas.

Eu só quero entender os motivos de estar assim. Quero entender quais foram meus erros e se, por acaso, eu os cometi. Sei que tenho defeitos e sei que não sou perfeita... Mas também sei que não fiz nada para merecer a solidão.

Só peço um pouco de compreensão. Os anos já ficaram para trás e eles não são poucos. Antes de me julgar, tente olhar para trás e ver o que fiz de tão mal. Tenho certeza que não há nada.

Apenas não me deixe sozinha aqui, deitada numa cama qualquer e cercada por essas paredes nada aconchegantes. Não quero ficar aqui apenas tendo rostos desconhecidos como família. Quero a minha verdadeira. Quero sentir o carinho que emana dela. 

Ou, pelo menos, sentir que sou querida e amada ao invés ser um peso.

Um dia fora da rotina, um caminho diferente e um cobertor surrado

sábado, 3 de novembro de 2012

O dia já estava acordado há muito mais tempo que eu. Levantei-me da cama e deixei o cobertor jogado de qualquer jeito. Não importava se meu pai iria implicar comigo depois. 

Coloquei uma roupa qualquer, peguei a bolsa em cima da cadeira e saí sem comer nada. Já tinha decidido que o dia iria ser diferente e ninguém poderia mudar isso. 

Modifiquei o percurso de casa para o trabalho. Peguei um ônibus diferente daquele de todo dia. Na verdade, precisei pegar dois... E cheguei bem atrasada por isso.

Recebi uma bronca do meu chefe e segui com minhas tarefas. Antes de começar a preencher aquela papelada super chata, fui até a sala onde ficavam algumas tralhas do escritório e peguei a cadeira com forro verde. Ninguém gostava dela por ser diferente das demais. Para mim, isso é o que a tornava tão especial.

Peguei meu espelho na bolsa e encontrei meu batom vermelho bem no fundo. Abri-o, passei em meus lábios e conferi o resultado. Ótimo.

Prossegui com o resto dos papéis e resolvi mudar minha rotina outra vez. Baguncei tudo e tirei da ordem. Quem se importava se eu fosse começar pelos arquivos da semana passada ou do dia anterior? Eles seriam feitos de qualquer forma. Mas me senti especial por isso. Dane-se.

Abri a gaveta a procura de uma caneta e encontrei uma tiara há muito tempo abandonada ali. Ela era bem colorida e deve ter pertencido a uma prima mais nova. Lembro que a usei um dia para vir ao trabalho, mas acabei tirando-a por receber muitos olhares tortos. Com um sorriso no rosto, coloquei-a sobre meus cabelos.

Meu expediente continuou assim, com tudo fora da rotina. Visitei as mesas dos meus colegas de trabalho, sempre com um sorriso de lábios vermelhos. A cada visita, entregava-lhes um papel diferente. As vezes, correspondia ao dia anterior. Outros, ao mês passado. Eles olhavam perplexos para as datas e depois voltavam às suas tarefas. Ou, na pior das hipóteses, chegavam à minha mesa com uma dezena de palavrões e blá blá blá.

Saí do 9º andar e desci pelas escadas. Esbarrei em pessoas que nunca tinha visto em todos os 12 anos que trabalhava ali. Cada vez que encontrava um rosto novo, dava um sorriso. Recebi uns 2 em troca. 

Na volta para casa, fui andando. Eu morava depois de umas cinco quadras. Parece muito... Mas hoje estava tudo estranho, então fui sem reclamar. Antes mesmo de chegar, parei em umas duas padarias (que não conhecia) e comprei cupcakes e sorvete de pistache. Duas coisas que eu nunca tinha experimentado.

À noite, liguei a TV em um canal qualquer de filmes. Terminei meu dia com uma história de comédia romântica. Depois entrei no quarto, peguei o cobertor e guardei-o no armário. Lá dentro, no fundo, encontrei um outro surrado, antigo e vermelho. 

Deitei na cama e me embrulhei com o cobertor que usava há uns 5 anos. Senti-me mais confortável que nunca, do mesmo jeito que me senti ao mudar minha rotina e aplicar à ela coisas que sempre quis fazer e usar. No fundo, eu sabia que aquele dia não tinha nada demais. Também sabia que ele nunca iria se repetir... Mas também sabia que, antes mesmo de cair no sono, eu devia registrá-lo. Assim, lá no futuro, quem sabe eu posso encontrar esse texto bobo e fazer uso dele, novamente, como faço agora do meu antigo cobertor. 

A vida em foco

domingo, 21 de outubro de 2012

Eu procurei por muito tempo. Vasculhei em todos os cantos. Meti-me por caminhos desconhecidos e me perdi tentando encontrar alguma coisa que fizesse tudo valer a pena. Dei muita razão para o amor e esqueci de aproveitar o que estava a minha volta.

O tempo passou. Deixei o mundo me guiar e os sentimentos foram ao meu lado. Nas estradas que percorri, apenas consegui contemplar um borrão de várias cores que ficaram para trás sem ter nenhum sentido. Meus dias passaram a ser assim: desfocados. Como se eu tivesse perdido meus óculos há muito, muito tempo.

Perdi a vida tentando encontrar um motivo para vivê-la. Deixei de ser feliz para encontrar a felicidade. Ou, pelo menos, o que achei que fosse a minha. Não aproveitei a tranquilidade das estradas e tampouco descansei da viagem sob uma árvore e sombra fresca. A vontade de terminar o caminho deixou-me por completo... Eu não queria mais chegar ao final. Agora a única coisa que importava era aproveitar os meios.

Parei de procurar e comecei a me surpreender. Aprendi comigo mesma - e com todos os erros que cometi - a não criar expectativas. Aprendi a não achar que o amor estava nos lugares que pensei que estaria. Cansei de correr atrás dele. Comecei a esperá-lo e a deixar que, pelo menos uma vez, ele viesse atrás de mim. E com tudo isso (e mais umas feridas nos joelhos com tantos tombos) entendi que, quando as coisas aparecem ao acaso, elas são mais sinceras. E duram bem mais.

Também passei a aproveitar cada minuto. Abandonei meus medos e preparei meus escudos. Passei a não me importar com as feridas. Pelo contrário: atribui uma história à cada uma delas sem me preocupar em curá-las. E sem me preocupar se eram machucados visíveis ou não.

Tudo isso me ensinou que o tempo sempre estará certo e que, quando algo não é para acontecer, não adianta forçar. O destino sabe o que fazer com as escolhas que tomamos. É só depois de muitas lágrimas e muitos tombos que reconhecemos sua razão. E, consequentemente, é só depois de quebrar (muito) a cara que o tempo nos mostra do quanto ele nos livrou.

E, assim, deixei de passar pela vida apenas com uma visão borrada dela. Ajustei meu foco, preparei meus sentidos, fiz as malas e saí por aí a procura de tudo o que perdi. Só que, desta vez, registrando tudo e sem deixar nada me escapar.






Design e código feitos por Julie Duarte. A cópia total ou parcial são proibidas, assim como retirar os créditos.
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