Meu anjo

Não vá, anjo. Fique comigo. Ainda quero sonhar com você. Ainda quero fazer o mesmo pedido de todos os dias. Quero pedir mais uma vez para que me cubra todas as noites e me dê um beijo na testa antes que eu durma. Meu anjo. Tens mesmo de ir? Quero que enxugue minhas lágrimas como sempre fez. Que me abrace todas as vezes que eu tiver um pesadelo durante a madrugada. Anjo, prometa que vai ficar mais algumas noites. Só até eu deixar de ter medo do escuro que tanto me apavora. Só até eu aprender a voar com as minhas próprias asas. Anjo, quero te fazer feliz. Assim como você me faz. Não vá. Me dê mais um sorriso, somente um para que eu o guarde. Você me faz bem quando chega perto com esse seu sorriso aberto.

Preciso confessar que não sei amar como eu gostaria. Mas posso aprender se você ficar comigo mais um pouco. Não vê? Estou quase lá. Por favor, não vá. Meu coração precisa de você aqui para ouvi-lo bater, para que tenha motivos pra bater. Anjo, não me deixe sem saber o que fazer, sem o que dizer, pra onde ir. Meu anjo, de que adianta viver se eu não tiver por perto você? Acordar sabendo que não estará mais na mesa do café? Chamar pelo teu nome do meu quarto ao meio-dia sabendo que não mais estará ali pra dizer que o almoço já está quase pronto. Meu anjo da guarda, meu amor, minha vida. Porque tivestes que bater as suas asas? Porque voastes pra tão longe de mim? Ainda posso te sentir, isso é normal? Ainda ouço tuas músicas e choro. Ainda hajo como se você estivesse aqui. Tudo isso porque nunca deixarei de te amar. Esteja você aonde estiver.

Carta a minha mãe, que há algum tempo me deixou.

73ª EDIÇÃO MUSICAL/Bloínquês
Angus Cailleach