O bilhete na poltrona

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Era só mais um dia comum, cheio de tarefas a fazer e papéis a preencher. Cheguei às 6h40min, como sempre, e coloquei minhas coisas em meu armário. Procurei meu avental em minha bolsa e, enquanto o vestia, andei até o balcão.

Após alguns minutos, ele chegou. Rafael sentou-se em sua poltrona favorita, onde sempre folheava algumas revistas enquanto esperava o tempo passar. Em alguns dias, me dava bom dia ou falava sobre o tempo. Incrível como isso me fazia sorrir, por mais bobo que fosse.

Peguei alguns papéis e comecei a organizar os nomes dos professores em ordem alfabética. Felizmente, hoje faltariam alguns. Ou seja: trabalho a menos. Separei aqueles que tinham horários no dia e deixei-os em cima do balção. A folha de presença de Rafael era a terceira.

O relógio marcou 7 horas da manhã e Rafael se levantou de sua poltrona e veio ao meu encontro. No mesmo momento, minhas pernas começaram a tremer e meu coração, a acelerar. 

Ao invés pegar sua folha, Rafael apenas se apoiou no balcão. Tentei desviar o olhar e comecei a mexer no computador. Ele sorriu e perguntou:

- Você sabe que não tenho aula agora, não sabe, Anna? 

Suspirei ao ouvir sua voz dizer meu nome. Respirando fundo, levantei-me e fui até ele. Tentei manter uma conversa casual, o que foi quase impossível. O tom da minha voz não me deixava mentir.

- Claro que não sei. - respondi, desviando meus olhos dos seus. - Não fico espiando seus horários.

Sorri em sua direção e fui até o computador novamente. Rafael ainda continuou ali, parado.

- Então acho que o jeito é esperar... - comentou.

Prossegui com minhas tarefas, tentando deixar aquilo de lado. Ele estava estranho... Parecia que queria falar algo importante. Claro que era besteira minha. 

Os minutos se passaram e segui trabalhando. Depois de terminar com os papéis, levantei-me para beber água. Estava tão perdida em pensamentos que não percebi quando Rafael me puxou, fazendo-me cair em seu colo.

- Anna... - suspirou. - Eu preciso te falar uma coisa.

- Diga. - respondi, sem ar. Nunca havíamos ficado tão perto. Não daquele jeito.

- Eu... - hesitou. - Eu... Eu estou apaixonado por você.

Demorei a digerir suas palavras. Lembrei de tudo o que havia escutado no dia anterior. Minha amiga deixara muito claro, não deixara? "O Rafael é um canalha, Anna. Ele é um galinha, dá em cima de todas". Sua voz ainda ecoava em minha cabeça.

- E você diz isso para quantas, Rafael? - bufei. - Está apaixonado por mim e quantas outras mais?

- Só por você... 

Levantei-me sem olhar para seu rosto. Não queria saber sua expressão e, além de tudo, não queria me iludir. Peguei meu copo de água e segui para a sala dos funcionários. Graças aos céus, Fernanda estava lá.

- Anna... - abraçou-me. - O que houve? Você está pálida!

- O Rafael, Fê! - respondi, contendo minhas lágrimas. - Ele disse que está apaixonado por mim.

Fernanda ficou em silêncio por alguns segundos, pensando no que havia me dito no dia anterior, suponho. Estava claro que ele não queria nada sério. Não estava?

- Anna, eu sei que eu te contei tudo aquilo e vi como você ficou mal. - e segurou minha mão enquanto completava. - Mas também sei que o Rafael está muito diferente. Eu vejo o jeito que ele olha para você todos os dias.

- Mas...

- Mas nada. - interrompeu-me. - Você mesma me disse que o amor pode mudar as pessoas. E o Rafael gosta de você. Deixe esse sentimento mudá-lo, Anna.

Respirei fundo enquanto pensava no que acabara de ouvir. Eu queria tentar. Eu queria ir atrás dele e dizer o quanto o queria. Porém, tinha medo de sofrer. E Fernanda sabia disso tudo.

- Anna... - disse, ainda acariciando minha mão. - Eu sei que você está amedrontada com tudo o que te contei. Só que se ele disse aquilo, é porque é verdade. Vá atrás dele, amiga. Sei que é o que você quer. - sorriu.

Segui seu conselho e fui até a poltrona onde havia deixado Rafael sentado. Não o encontrei no lugar de sempre. Em cima do assento, apenas tinha um bilhete com meu nome na frente. Reconhecendo a letra, abri-o.

"Precisei ir embora, mas voltarei no fim do expediente para conversarmos. Com amor, Rafael."

Ainda com a última frase em minha cabeça, tive a certeza que tomara a decisão certa. E se, por acaso, ela fosse me magoar no futuro, pelo menos teria tentado.

Eu deixaria o amor me levar. Seja lá onde ele fosse me deixar.

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