Depois que o sol se foi

Seus olhos refletiam o que sobrava da luz solar. Com um sorriso em meus lábios, beijei o canto de sua boca, e, automaticamente, nosso amor se converteu em um doce beijo.

Estávamos deitados sobre a grama, embaixo do crepúsculo e rodeados de árvores que agora balançavam com o vento. O céu adquirira um tom alaranjado, do jeito que eu adorava. Ele fechou os olhos e percebi o quanto daquele momento estava presente em nós.

O sol ia se pondo aos poucos e, irracionalmente, comecei a refletir sobre o que acontecia ali. O amor, que já me deixara em pedaços quase invísiveis, havia me feito de vítima, novamente. Eu sabia o quanto estava arriscando e colocando em jogo ao senti-lo outra vez.

A luz em minha vida havia sido extinta, pelo menos aquela que fazia parte de meus dias. O sol, que agora não estava no céu, caminhava por outros lugares, levando sua luz a outras pessoas que o necessitavam. Ele havia abandonado uns para dar conforto a outros.

Porém, o sol não me deixaria na escuridão, assim como o amor não havia me largado sozinha. A lua, agora no lugar da maior estrela do universo, iluminava nossos rostos. E virando-me para encarar os olhos daquele que estava ao meu lado, eu compreendi.

Compreendi que o sol havia ido embora, e que agora felicitava outros lugares e pessoas, enquanto um satélite natural tentava trazer um pouco de luz pelo anoitecer. A presença do calor se fora, mas a luz continuava em minha vida. A lua, que agora tinha a companhia de algumas estrelas, trazia um pouco de esperança quando achei não sentir mais. Não era nada comparado ao sol, mas a noite não seria eterna. Um dia ela traria o dia novamente.

Meu céu não era mais capaz de receber o sol, mas a noite se tornara mais importante que o dia, pois era na escuridão que minha luz brilhava intensamente.

Eu não sabia se o céu voltaria a ficar claro outra vez. Mas tinha certeza que a luz estava voltando a brilhar em minha vida, trazendo a felicidade e o sentido à minha existência. Sentimentos estes que pensara nunca mais sentir.