Um dia fora da rotina, um caminho diferente e um cobertor surrado

sábado, 3 de novembro de 2012

O dia já estava acordado há muito mais tempo que eu. Levantei-me da cama e deixei o cobertor jogado de qualquer jeito. Não importava se meu pai iria implicar comigo depois. 

Coloquei uma roupa qualquer, peguei a bolsa em cima da cadeira e saí sem comer nada. Já tinha decidido que o dia iria ser diferente e ninguém poderia mudar isso. 

Modifiquei o percurso de casa para o trabalho. Peguei um ônibus diferente daquele de todo dia. Na verdade, precisei pegar dois... E cheguei bem atrasada por isso.

Recebi uma bronca do meu chefe e segui com minhas tarefas. Antes de começar a preencher aquela papelada super chata, fui até a sala onde ficavam algumas tralhas do escritório e peguei a cadeira com forro verde. Ninguém gostava dela por ser diferente das demais. Para mim, isso é o que a tornava tão especial.

Peguei meu espelho na bolsa e encontrei meu batom vermelho bem no fundo. Abri-o, passei em meus lábios e conferi o resultado. Ótimo.

Prossegui com o resto dos papéis e resolvi mudar minha rotina outra vez. Baguncei tudo e tirei da ordem. Quem se importava se eu fosse começar pelos arquivos da semana passada ou do dia anterior? Eles seriam feitos de qualquer forma. Mas me senti especial por isso. Dane-se.

Abri a gaveta a procura de uma caneta e encontrei uma tiara há muito tempo abandonada ali. Ela era bem colorida e deve ter pertencido a uma prima mais nova. Lembro que a usei um dia para vir ao trabalho, mas acabei tirando-a por receber muitos olhares tortos. Com um sorriso no rosto, coloquei-a sobre meus cabelos.

Meu expediente continuou assim, com tudo fora da rotina. Visitei as mesas dos meus colegas de trabalho, sempre com um sorriso de lábios vermelhos. A cada visita, entregava-lhes um papel diferente. As vezes, correspondia ao dia anterior. Outros, ao mês passado. Eles olhavam perplexos para as datas e depois voltavam às suas tarefas. Ou, na pior das hipóteses, chegavam à minha mesa com uma dezena de palavrões e blá blá blá.

Saí do 9º andar e desci pelas escadas. Esbarrei em pessoas que nunca tinha visto em todos os 12 anos que trabalhava ali. Cada vez que encontrava um rosto novo, dava um sorriso. Recebi uns 2 em troca. 

Na volta para casa, fui andando. Eu morava depois de umas cinco quadras. Parece muito... Mas hoje estava tudo estranho, então fui sem reclamar. Antes mesmo de chegar, parei em umas duas padarias (que não conhecia) e comprei cupcakes e sorvete de pistache. Duas coisas que eu nunca tinha experimentado.

À noite, liguei a TV em um canal qualquer de filmes. Terminei meu dia com uma história de comédia romântica. Depois entrei no quarto, peguei o cobertor e guardei-o no armário. Lá dentro, no fundo, encontrei um outro surrado, antigo e vermelho. 

Deitei na cama e me embrulhei com o cobertor que usava há uns 5 anos. Senti-me mais confortável que nunca, do mesmo jeito que me senti ao mudar minha rotina e aplicar à ela coisas que sempre quis fazer e usar. No fundo, eu sabia que aquele dia não tinha nada demais. Também sabia que ele nunca iria se repetir... Mas também sabia que, antes mesmo de cair no sono, eu devia registrá-lo. Assim, lá no futuro, quem sabe eu posso encontrar esse texto bobo e fazer uso dele, novamente, como faço agora do meu antigo cobertor. 

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