Mudança. Eis uma palavra que nunca teve forte significado para mim.
Acordei ao som de Airplanes, jogando “eu realmente poderia usar um desejo agora” em minha cara. Fechei os olhos: eu sabia qual era o único desejo que tinha no momento.
Deixei minha mente viajar, tentando me imaginar não sendo como sou. Apareceu um rosto, não exatamente o meu, e percebi como minha ilusão era fraca. Eu sabia que estava diferente: minha expressão não era a mesma que via, todos os dias, no espelho. Parecia confiante, sem medo, assim como meu desejo de ser. Externamente, eu também mudara: meu cabelo estava maior, como sempre o quis, e bonito, bem tratado. Minhas roupas eram lindas, e até olhando, por fora, invejei. Percebi que não era a única e me supreendi: estava rodeada de pessoas, rindo de algo que eu falara. E eu sabia que provocara aquilo: era minha imaginação, minhas regras.
Abri os olhos, expulsando todos os pensamentos de minha cabeça. Eu não poderia me trair: eu era outra pessoa, totalmente o contrário de minha pequena ilusão.
Tentei repassar minha vida: ela não tinha nada demais. Sempre fora a garotinha do canto, de óculos e cheinha, sem muitos amigos: sempre fora a excluída. Eu aprendera a viver com aquilo, não? Talvez. Não me parece muito comum lidar com a solidão agora.
Olhei à minha volta: desejei ter um quarto diferente, com umas 5 amigas – então reparei que não consegui pensar em ninguém – fofocando sobre a garota fútil da escola. Ri com minha imaginação e sentei na cama, bagunçando o cabelo.
Minha reflexão continuou: qualquer coisa que eu tentasse ser, sem realmente fazer parte de mim, seria uma traição propriamente dita. A mais imperdoável; a traição à mim mesma. Era inútil querer ser algo que não podia, que não fazia parte de mim.
Lembrei de como era sortuda: tinha os melhores pais do mundo, compreensivos, carinhosos e que me apoiavam. Imaginei como eles seriam se eu fosse mais rebelde, livre e confiante. Não consegui. Para mim, eles sempre seriam assim, e mudá-los também, era errado.
E meus amigos? Mesmo sendo poucos, eu os amava. Mas, eles aceitariam, de coração, a minha mudança? E se eu os perdesse? Eu conviveria, de bom grado, com a consciência pesada por deixá-los ir?
Levantei da cama, consciente de que nada que eu imaginasse poderia ser real. Eu nascera assim, e qualquer mudança seria consequência de amadurecimento. Eu aprendera a ser assim, a pensar o que penso e sentir o que sinto. Ter outra vida, seria o máximo: mas não seria eu.
Eu queria mudar, mas por mais que eu quisesse aquilo, eu não poderia me arriscar.
0 comentários:
Postar um comentário
Quando for postar um comentário, favor usar a opção Nome/URL. Obrigada.