Aquela aula

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Parece que, ultimamente, começo de aula significa sono para mim. Estava tão exausta que a voz da professora servia como canção de ninar para meus ouvidos. Apoiei meus braços na carteira e deitei minha cabeça sobre eles, ainda - tentando - entender algo que a senhorita Veloso ensinava. Era um esforço e tanto da minha parte.

- O trabalho de hoje é simples, turma. - Começou a professora - Vou formar duplas e vocês terão que criar um texto sobre as consequências do preconceito para a sociedade. Bom, vamos lá!

Demorei alguns segundos para entender o motivo de tanto movimento na sala. Peguei minha bolsa (que a essa hora já estava no chão) e acompanhei meus colegas. Estava procurando minha amiga, Rafaela, quando a professora nos interrompeu. 

- Eu disse que eu formaria as duplas, pessoal! Quero todo mundo nos seus lugares, vou informá-los seus parceiros em alguns segundos.

A senhorita Veloso se escondeu atrás de uns papeis e, momentos depois, levantou-se novamente. Aquilo já estava me dando sono, de novo.

Toda a turma recomeçou a se movimentar assim que a voz da professora foi informando quem ficaria com quem. Gritinhos aqui, suspiros de decepções ali e eu quase caindo em minha inconsciência. Até que ela falou minha dupla.

- Lia Dourado e Diego Martins. Dupla número 5.

Escutar meu nome e o dele ao mesmo tempo foi como um ar gelado em meu rosto quente. Não tinha certeza se era aquilo que ela havia dito e fiquei com medo de levantar. Olhei para o outro lado da sala e ele ainda estava ali, parado, como se não importasse com quem faria a atividade. Diego me olhou, esperando que eu me levantasse ou fizesse algum gesto para que ele se sentasse ao meu lado. Congelei onde estava.

A professora ainda me encarava, esperando algo de mim, com certeza. Juntei minhas coisas, levantei e, sob olhar da senhorita Veloso, fui sentar-me ao lado de quem eu deixaria por último na minha lista de parceiros.

Diego me olhou, indiferente, e começou a prestar atenção na lousa. A professora escreveu o tema da atividade no quadro, explicou como queria que fosse feito e se sentou. 

- E então, quem começa? - Diego me perguntou enquanto procurava seu caderno e sua caneta. Ele escreveu seu nome, número e a classe. Depois, empurrou a folha para o canto da mesa, em minha direção. Fiz o mesmo e escrevi meus dados ali, ainda com o olhar baixo.

Diego aproximou sua cadeira da minha, talvez porque pensasse que eu não o escutava. Seja lá quais eram suas intenções, permaneci intacta. Até que senti algo grudar em minha cabeça, quente.

- Olha, Lia, somos nós no quadro! - Ele riu. - Nossas cabeças estão juntas, parecemos um casal.

- É... Parecemos mesmo. - Encarei nossos rostos na lousa, que por culpa da luz, agora refletia algo que lembrava nós dois. Fitei nossas cabeças coladas, querendo rir daquilo ou, quem sabe, acordar do sonho idiota. 

- Sabe, ver isso faz meu coração doer. - Diego comentou, ainda com sua cabeça colada na minha. Senti seu olhar abaixar.

- Por quê? - Perguntei, realmente curiosa.

- Porque não ajuda em nada nos ver assim. - Ele voltou a sua posição normal, assim como eu. Nos olhamos e fiquei surpresa com o que ele havia dito. Se não o visse pronunciar as palavras com tanta clareza, pensaria que estava alucinando.

Não resisti e, sem me importar se alguém nos assistia, sem ligar para a redação idiota da professora e sem lembrar de que eu evitava sequer olhar para Diego só para não entregar o que sentia, eu uni nossos lábios. Comecei com um selinho, e mesmo sendo tão bobo, meu estômago se encheu de borboletas. Eu nunca o tocara assim, e fazer isso de uma hora para outra, poderia vir de qualquer uma. Menos de mim.

- Isso ajuda? - Perguntei, tonta.

- Não, não ajuda. - Ele retribuiu o selinho. E, mesmo sem querer, eu sorri. Meus lábios se puxaram automaticamente, assim como minha boca colou novamente na dele.

- Acho que ajuda.

- Não, acho que isso, sim, ajuda.

Diego colocou suas mãos em meu pescoço, me olhou com seus olhos penetrantes e, antes de me beijar, sorriu, do jeito que eu nunca o vira sorrir, não para mim. Sua boca tocou na minha e nossas línguas não demoraram a se encontrar. Não sei quanto tempo ficamos ali, curtindo um ao outro, curtindo o que havíamos descoberto em alguns minutos. Mas nada nos deteve: nem a professora e seus papéis, nem nossos colegas de sala e suas redações.

Nós sorrimos um para o outro e sentamos mais perto. Encostei minhas costas em seu peito e ele fechou seus braços por minha cintura. Eu não tinha certeza se aquilo era um sonho. A única certeza que eu tinha era que, se fosse, eu queria permanecer dormindo por muito tempo.

- Lia, você vai de transporte escolar? - Perguntou-me, após um tempo.

- Não, vou de ônibus. Tenho curso depois daqui. Por quê?

- Ah, queria que você fosse comigo. - Lamentou-se. - Ia ser tão bom te ter do meu lado por mais tempo...

Eu olhei em seus olhos, sem saber o que dizer. Entrelacei nossos dedos, esperando que esse simples gesto fosse o suficiente para mostrar como eu queria aquilo também. 

Diego puxou nossas mãos para seu coração e me beijou novamente. E enquanto nossas línguas se reencontravam, minha mão sentia o calor da mão dele. Era como uma cena de um filme: tudo perfeito, sem nada que pudesse nos atrapalhar. E, como complemento, nossos corações agiam como trilha sonora, deixando tudo mais perfeito... Deixando tudo se explicar.

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